terça-feira, 23 de setembro de 2008

O Rei das classes sociais.

O brega renasce com força e se introduz na classe média.

Estilo musical presente nas periferias e classes populares, o brega foi “negado” desde a década de 60, quando o rock dominava o que se denominava de bom gosto. Assim, o novo estilo musical com letras extremamente românticas, se tornou para os jovens “engajados” uma forma de alienação para ditadura militar.

Quando na verdade era apenas um estilo que queria falar de amor, dor- de- cotovelo e fazer os esqueletos dançarem. Mas com sua imagem ligada à ditadura militar cada vez a parcela “esclarecida” da sociedade se distanciava do novo estilo.

Foi na periferia, onde o brega ganhou força. Com os anos, os ídolos mudaram, foi se disseminando nos subúrbios, surgiram outras vertentes como o tecno- brega, o calypso e o leque de cantores e artistas foi crescendo. Por um lado foi ao poucos quebrando barreiras, por outro, algumas bandas permitiu uma queda na qualidade das produções.

Agora o que se foi negado aos poucos está sendo introduzido na classe média da sociedade. As carrocinhas de cd´s piratas, que bombam com os mais novos hits de brega do momento, conquistaram outros públicos.

O Quintal do Lima, point da cena cultural de Recife, tem um público de classe média. Alguns anos atrás era de se assustar se algum cantor de brega tocasse naquele quintal, decorado por meninas com vestido de algodão, estilo Período Fértil, com sandálias de couro e bolsas de tecido. Mas agora os cults “resolveram assumir” seu gosto pelas músicas vazias que um dia “alienou” a cabeça dos sem conteúdo.

Quando uso “resolveram assumir”, porque a exemplo da banda Tanga de Sereia, que toca brega, faz letras românticas, usa batida dançante e faz o maior sucesso com o público cultural, se esconde atrás do termo cult. Não vejo diferença entre Kelvis Duran, o rei do calypso, e Tanga, tirando a voz feminina.

Tenho certeza que Tanga de Sereia, faria o maior sucesso no Alto José Bonifácio, Peixinhos, Águas Compridas assim como Kelvis Duran lota o Quintal do Lima com ingressos custando R$15,00, quando costumamos pagar entre R$3,00 a R$5,00 para os shows das bandas alternas.

O termo cult seria uma defesa para não assumir o gosto pelo brega, pelo suburbano, pelo não-conteúdo? É mais fácil se munir de idéias vanguardistas e antropológicas, do que dizer gosto mesmo de ralar o bucho, escutar músicas não politizadas sem grandes solos de guitarra, ou pedais duplo na bateria.

A Dj Catarina dee Jah provou como uma coisa não precisa ter haver com a outra. No festival Coquetel Molotov, onde se concentra o maior número de indies, ela mostrou seu novo projeto. Catarina fechou seu show com a música do Pica-Pau da banda de brega Vício Louco e fez todo mundo babar com sua interpretação natural, sem preconceitos e rótulos.

Então, Cafusús e Rariús dessa cena que cheira a algodão, couro e tem como trilha sonora a voz de Ariano Suassuna cantando Madeira do Rosarinho, deixem Lévi- Strauss, para suas teses de doutorado e vá dançar um brega que faz bem para alma.

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